Uso de AINEs em felinos

Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são um tipo importante de fármaco em medicina felina que possuem uma atividade analgésica, anti-inflamatória e antipirética. Enquanto a maioria dos dados publicados sobre seu uso nestas espécies se relaciona com um tratamento de curto prazo, existem provas crescentes do valor destas drogas no tratamento da dor crônica em gatos (por exemplo, aquele associado com a EAD), e alguns AINEs receberam a autorização para seu uso em longo prazo em gatos em algumas áreas geográficas.

O objetivo desta matéria técnica é fornecer informação prática dirigida a profissionais veterinários a fim de impulsionar um tratamento adequado com AINEs sempre que os felinos sejam beneficiados com o uso destes fármacos.

AINEs e inibição do ciclooxigenase/lipoxigenase

Os benefícios terapêuticos dos AINEs incluem suas ações antipiréticas, analgésicas e anti-inflamatórias como já foi dito anteriormente. Exercem estes efeitos principalmente através da inibição da produção de prostaglandinas (PG) e leucotrienos (LT) por parte das enzimas ciclooxigenase (COX) e 5-lipoxigenase (5-LOX), respectivamente. A maioria dos AINEs inibe primariamente a atividade das enzimas COX.

Foram identificadas duas isoformas COX diferentes (COX-1 e COX-2) como responsáveis da produção de prostaglandinas. Também foi identificada uma terceira isoforma, inicialmente conhecida como COX-3, e agora descrita como uma variante de empalme de COX-1, que parece desempenhar um papel no controle central da dor. A fosfolipase A2 é a enzima que limita a rapidez que inicia a via de COX liberando ácido araquidônico (AA) dos fosfolípidos ligados à membrana. As duas isoformas COX são responsáveis de transformar o AA em PGG2 e PGH2 mediante reações enzimáticas idênticas. Seguindo estes passos iniciais, a PGH2 funciona como substrato intermédio para a biossíntese, por sintetases específicas e isomerases, de prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos. A COX-1 transforma o AA em uma série de moléculas, incluindo tromboxanos (TX), como ser o tromboxano A2 (TXA2), e prostaglandinas, como PGD2 , PGE2 e PGF2 , e prostaciclina (PGI2 ). A atividade de COX-2 produz um espectro mais estreito de prostaglandinas, concretamente PGE2 , e prostaciclina. As prostaglandinas desempenham um papel principal em muitos aspectos da fisiologia normal, incluindo homeostase vascular, gastroproteção, desenvolvimento renal e rego sanguíneo, coagulação sanguínea, metabolismo dos ossos, cura de feridas, desenvolvimento e crescimento dos nervos, e respostas imunes. Também estão implicadas nos processos patofisiológicos, incluindo a dor e a inflamação, e a progressão do câncer. Muitos dos dados que possuímos hoje não são específicos de felinos dada a falta de estatísticas.

 Seletividade COX-2

✜ Igual que em outras espécies, os estudos de AINEs em felinos sugerem que não existe nenhuma diferença na eficácia de anti-inflamatórios ou analgésicos entre medicamentos não seletivos da COX e inibidores seletivos da COX.

✜ Assume-se, como no caso de outras espécies, que o uso de medicamentos com uma maior seletividade da COX-2 em felinos ajudará a evitar alguns dos potenciais efeitos adversos associados com a supressão da COX-1, como serem irritação/ulceração e inibição plaquetária. Porém, a inibição seletiva de COX-2 não negará totalmente a possibilidade de aparecerem efeitos adversos e não dará nenhum efeito protetor na função renal em comparação com um inibidor não seletivo.

Frequência de dosagem

✜ Para evitar efeitos secundários potenciais, os donos devem ser incentivados para trabalhar no ajuste da dose até obter a “dose mínima efetiva”, aquela que funcione para seu felino, entendendo que isso pode mudar com o tempo. Frequentemente, esta dose pode ser inferior à dose registrada.

✜ Em gatos com sobrepeso ou obesos, é prudente calcular as doses iniciais de AINEs levando em conta seu peso corporal ideal ou magro.

✜ Quando quiser reduzir a dose global de um AINE, seria prudente reduzir a dose registrada, mas manter a frequência recomendada pelo fabricante, quando for possível.

✜ A equipe de expertos reconhece que um tratamento intermitente/pulsátil, por exemplo, de 2–3 vezes por semana em vez de diário, é melhor do que não fazer nenhum tratamento, e anedoticamente resulta eficaz em alguns felinos. Porém, existe o risco de não conseguir um tratamento efetivo, ou que o tratamento não seja ótimo, em períodos de tempo significativos.

✜ A retirada intermitente do medicamento, uma diminuição da frequência de dosagem, ou uma redução da dose podem ajudar aos donos na avaliação da eficácia do medicamento.

✜ A equipe de expertos considera que existem poucas justificações para um tratamento de choque com AINEs salvo que o processo da doença subjacente varie consideravelmente em gravidade ou que não precise de um tratamento coerente analgésico/anti-inflamatório.

Dois estudos retrospectivos avaliaram a segurança dos AINEs em um total de 76 gatos adultos, incluindo alguns gatos com doença renal crônica estável. Em ambos os estudos, os gatos receberam meloxicam oral (aproximadamente 0,02 mg/kg/dia) a longo prazo para a osteoartrite. Um estudo incluiu três gatos com doença renal crônica em estado 3 da Sociedade Internacional de Interesse Renal (IRIS), mais 10 gatos sem doença renal crônica com concentrações de creatinina em soro monitorizadas, e os restantes 22 gatos com doença renal crônica em estado 1 da IRIS. Nenhum estudo apresentou diferenças significativas no desenvolvimento ou progressão de disfunção renal nos gatos tratados, comparados com controles relacionados com a idade e com a doença, em um período médio de 6 meses ou mais de 1 ano.

Os efeitos adversos de medicamentos costumam ser reversíveis sempre que reconhecidos e tratados a tempo.

Fonte desta matéria:

http://avepa.org/pdf/Directrices%20_ISFM_AAFP.pdf

www.isfm.net/toolbox